Quem sou eu

Minha foto
Economista pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Possui cursos de extensão pela Fundação Getúlio Vargas em Fundamentos de Estatística Descritiva e Probabilidade, Gestão de Preços, Consultoria em Investimentos Financeiros, Balanced Scorecard, Finanças Empresariais, Introdução ao Mercado de Ações a Vista, Administração Financeira / Decisões sobre Investimentos e Financiamentos, Direito Bancário, Gestão de Crédito e Risco, Direito do Seguro e Resseguro, Gestão Estratégica em Negócios Bancários, Teoria Econômica do Setor Público, Contabilidade Financeira, Projetos de Investimento Social e Série Estratégica em Finanças. Possui Certificação pela Associação Nacional dos Bancos de Investimentos CPA 10 e CPA 20. É Agente Autônomo de Investimentos credenciado pela Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (CVM), certificado pela Associação Nacional das Corretoras e distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). E-MAIL: daguiarsilva@uol.com.br

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Psicologia revela propensão a dar calote; teste seus hábitos


TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Você fuma ou bebe mais do que quatro doses ao dia? Acredita que presentear a sogra é artigo de primeira necessidade (jamais um luxo)? Então, você tem mais chance de ter o nome incluído na Serasa ou no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) do que quem respondeu não.

As conclusões fazem parte de uma tese de doutorado defendida neste ano na USP, que propõe uma metodologia de análise de crédito com base em variáveis psicológicas.
Se a pessoa costuma ir ao shopping (para espairecer) após uma semana tumultuada no trabalho ou esconde a fatura do cartão de crédito do cônjuge (para não revelar o valor de quanto paga por algumas compras), as chances de ter o nome na lista de maus pagadores aumenta mais.

Mesmo quem sempre paga as faturas do cartão em dia não atenua em nada o problema se achar que, aconteça o que acontecer, sempre conseguirá se safar dos apuros.

"O excesso de otimismo e de confiança é uma das principais marcas das pessoas com risco de crédito", disse Pablo Rogers, autor do estudo, que venceu o Prêmio Revelação em Finanças do Ibef-SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças).

APLICAÇÃO

No trabalho, Rogers propõe um modelo alternativo de questionário, inspirado nos estudos da psicologia econômica, para os bancos predizerem o risco de calote dos clientes.

Hoje, as instituições financeiras analisam o risco de calote com base em variáveis estatísticas de natureza socioeconômica --como idade, renda, anos no mesmo trabalho e posse de imóvel próprio.

O teste psicológico foi aplicado em mil pessoas no Estado de Minas Gerais, onde mora Rogers, que responderam a perguntas como "eu já senti que as pessoas ficariam horrorizadas se soubessem de meus hábitos de consumo" ou "já me senti ansioso ou nervoso nos dias em que não fiz compras".

"Para as pessoas comuns, essas perguntas fazem mais sentido do que as variáveis socioeconômicas e de tempo no mesmo trabalho. E funcionam; dizem muito a respeito da propensão de pagamento dessas pessoas", disse.
Editoria de Arte/Folhapress
De acordo com as respostas, os entrevistados foram classificados em uma escala de menor para maior propensão de não pagar dívidas. Os resultados foram depois confrontados com a situação cadastral de cada entrevistado nos serviços de proteção ao crédito. Segundo Rogers, compradores classificados como "compulsivos" apresentaram maior probabilidade de se encontrar no grupo de inadimplentes.

Indivíduos que consideravam presentear crianças ou amigos em datas comemorativas como uma "necessidade", mesmo que muitas pessoas achem que isso é um luxo, tinham mais chance de se encontrar no grupo de maus pagadores.

Pessoas com problemas de autocontrole, identificados pelos hábitos de fumar ou beber excessivamente, também tinham mais probabilidade de dar calote.

domingo, 6 de novembro de 2011

A indústria das microfinanças



Entende-se como microfinanceira qualquer tipo de instituição que oferece crédito e outros serviços financeiros a microempreendimentos, ou seja, empresas formais ou informais com até dez trabalhadores. O valor do empréstimo médio para uma carteira de microfinanças, no Brasil, tende a girar em torno de R$1.000,00; podendo variar entre R$100,00 e R$10.000,00. No ano de 1999, por exemplo, o empréstimo médio das carteiras de microfinanças foi de R$1.100,00 nas operações apoiadas pelo BNDES.

As instituições de microfinanças podem ter várias formas jurídicas: SCM – sociedade de crédito ao microempreendedor –, ONG – organização não governamental sem fins lucrativos –, cooperativa de crédito, financeira, ou banco.

O gerenciamento de uma instituição de microfinanças é baseado em três princípios chaves...

1 –   Análise de crédito feito com base no perfil do tomador de crédito, utilizando informação sobre o negócio, recolhida in loco, bem como o fluxo de caixa familiar.
2 –   Gestão rigorosa de carteira, visando a um indicador de inadimplência, contada a partir de um dia de atraso, que não ultrapasse 5% da carteira em risco.
3 –   Procedimentos operacionais que permitam a máxima redução nos custos de transação.


Fonte
BNDES. A indústria das microfinanças. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/microfin/09sisinf.pdf>. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A capitalização dos juros e o conceito de anatocismo


Os fatos

Há muitos anos se discute neste país a legitimidade do cálculo de juros compostos nas operações de empréstimos ou de financiamentos. A alegação principal é que o Decreto 22.626, de 7 de abril de 1933, proibiria essa prática, o qual, no seu artigo 4º, estabelece que é proibido contar juros dos juros. E é com base nesse texto, copiado literalmente do art. 253 do Código Comercial Brasileiro de 1850, que muitos entendem que não se pode adotar o critério de capitalização composta, ou juros compostos, ou juros capitalizados, ou ainda juros sobre juros, caracterizado no mundo jurídico como anatocismo. Antes de me estender sobre esse polêmico assunto, é muito importante fazer algumas considerações sobre os conceitos básicos da matemática financeira.

Conceitos básicos de matemática financeira e sua aplicação no mundo

Os conceitos de juros simples e compostos são universais e dizem respeito ao processo de formação dos juros. No cálculo dos juros simples, a taxa de juros incide sobre o capital inicial, e somente sobre o capital inicial; no caso dos juros compostos, a taxa de juros incide sobre o capital inicial e também sobre os juros que vão se acumulando periodicamente – dia, mês, trimestre ou ano. Os juros resultantes da aplicação de qualquer um desses dois critérios é o valor devido no final do período contratado, o qual pode ser pago ou incorporado ao capital inicial para a formação de novos juros, conforme vontade firmada entre as partes. Para melhor entendimento dessa questão, vamos admitir o seguinte exemplo...

Calcular o montante de um empréstimo – ou de uma aplicação – de R$1.000,00; contratado a uma taxa de juros de 5% ao mês para ser quitado de uma só vez no final de 4 meses.

O montante ou valor de resgate será de R$1.200,00 se o critério de cálculo estabelecido entre as partes for o de juros simples, e R$ 1.215,51, se o critério firmado for o de juros compostos. Este modelo é chamado de pagamento único, em contrapartida aos modelos que envolvem dois ou mais pagamentos. O critério de juros simples tem aplicação extremamente limitada no mundo, utilizado somente para operações financeiras de curto prazo, de até 12 meses, em que o capital inicial e os juros são pagos de uma só vez no vencimento. A grande maioria dos países do mundo – toda Europa, o continente asiático, os Estados Unidos e a maior parte da América do Sul - adota esse critério por costume ou tradição. Nesses países, a taxa de juros é sempre informada para o período de um ano; e como essa taxa deve estar escrita no contrato, é chamada de taxa nominal. Assim, para um empréstimo a ser pago no final de 3 meses, contratado a uma taxa de juros de 10% ao ano, a taxa para o período é de 2,5%, ou seja, 10% / 12 x 3. No Brasil, a utilização desse critério no mercado financeiro é muito restrita; comumente é usado por leigos e semileigos nos pequenos negócios, e, por essa razão, chamado de cálculo de padaria.

Em se tratando de empréstimos – ou financiamentos – para quitação em duas ou mais prestações, iguais ou diferentes, o mundo inteiro utiliza o critério de juros compostos ou de capitalização composta; idêntico procedimento é adotado para todas as modalidades de aplicações periódicas de recursos, como cadernetas de poupança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência e outros. Nos casos de empréstimos ou financiamentos para pagamento em parcelas iguais, cujo sistema de cálculo apenas no Brasil é conhecido por Sistema Price ou simplesmente Tabela Price, o valor das prestações é obtido com base no critério de juros compostos. E esse fato pode ser facilmente comprovado, visto que a fórmula utilizada para o cálculo das prestações está demonstrada na maioria dos livros de matemática financeira. Não tenho conhecimento de um único país no mundo que adote juros simples para este tipo de cálculo.

O que é anatocismo

De acordo com ampla pesquisa que realizei, anatocismo nada tem a ver o critério de formação dos juros a serem pagos – ou recebidos – numa determinada data; ele consiste na cobrança de juros sobre juros vencidos e não pagos, exatamente como conceituado no Novo Dicionário Brasileiro. E como a legislação brasileira foi inspirada nas leis dos países europeus como a França, Portugal, Alemanha, Itália, Espanha e Holanda, entendo ser importante transcrever o conceito de anatocismo contido no Código Civil português, que endossa plenamente o nosso entendimento...

Art. 560 – Para que os juros vencidos produzam juros é necessária convenção posterior ao vencimento; pode haver também juros de juros, a partir da notificação judicial feita ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou proceder ao seu pagamento sob pena de capitalização. Só podem ser capitalizados os juros correspondentes ao período mínimo de um ano.

No Código Civil italiano encontramos entendimento semelhante...

Art. 1282 – Na falta de uso contrário, os juros vencidos só podem produzir juros do dia do pedido judicial, ou por efeito de convenção posterior ao seu vencimento, e sempre que trate de juros devidos pelo menos por 6 meses.

E no Código Civil francês, conhecido também por Código de Napoleão, considerado pela maioria dos grandes juristas como o pai de todos os códigos, o entendimento não é diferente...

Art. 1154 – Os juros vencidos dos capitais podem produzir juros, quer por um pedido judicial, quer por uma convenção especial, contando que, seja no pedido, seja na convenção, se trate de juros devidos, pelo menos, por um ano inteiro.

Com base nessas evidências podemos deduzir que o art. 253 de nosso Código Comercial editado em 1850, copiado literalmente no art. 4º do Decreto 22.626 de 7 de abril de 1933, foi mal copiado ou mal traduzido. Esse artigo tem a seguinte redação: É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em conta corrente de ano a ano. Observa-se claramente que primeira frase deveria ser: É proibido contar juros dos juros vencidos, ou ainda, É proibido calcular juros sobre juros vencidos.

Existência do anatocismo e a prática dos juros compostos

Entendido o anatocismo tal como foi caracterizado, ele somente existiria se após o vencimento de uma operação o credor cobrasse juros sobre os juros vencidos e não pagos. Vamos esclarecer melhor essa questão com o exemplo de um empréstimo de R$1.000,00 para ser quitado por R$1.225,00 no final de 9 meses. O anatocismo somente ocorreria se após o vencimento, e num prazo inferior a 12 meses, o credor cobrasse juros também sobre os juros de R$ 225,00.

É importante também observar a seguinte questão: o que muda para o devedor ou credor saber, que no exemplo mencionado, a operação custa 2,5% ao mês se calculada a juros simples ou 2,28% se calculada a juros compostos? Para efeitos legais, os dados relevantes são o valor do empréstimo, o valor de resgate e o vencimento; entendo que o critério utilizado para obtenção do valor dos juros é absolutamente secundário.

Vamos mostrar que nos casos de empréstimos ou financiamentos para pagamento em parcelas iguais o anatocismo também não existe. Para melhor entendimento vamos considerar o exemplo de um empréstimo de R$1.000,00 contratado a uma taxa de juros de 5% ao mês, para ser quitado em 4 prestações mensais de R$282,01, sendo este valor calculado com base no conceito de juros compostos, ou, como afirmam os entendidos, obtido com a utilização da Tabela Price. O quadro a seguir, bastante conhecido, vai nos ajudar no esclarecimento dessa questão.

prazo
saldo devedor
valor da amortização
valor dos juros
valor das prestações
0
1.000,00
-
-
-
1
767,99
232,01
50,00
282,01
2
524,38
243,61
38,40
282,01
3
268,59
255,79
26,22
282,01
4
0,00
268,59
13,42
282,01
TOTAL

1.000,00
128,04
1.128,04

Através do quadro podemos verificar que o valor dos juros devidos no primeiro mês, de R$ 50,00, igual a 5% sobre o saldo devedor inicial de R$ 1.000,00, é integralmente pago; no mês seguinte a taxa de juros incide somente sobre o saldo devedor de R$ 767,99 que nada contém de juros, e assim sucessivamente. É fácil verificar que, ao se efetivar os pagamentos de cada uma das prestações nos respectivos vencimentos, os juros devidos são integralmente pagos, e portanto, nada restará de juros para o mês seguinte. Dessa forma, comprova-se que não ocorre o anatocismo.

Considerações finais

É importante entender que o critério de juros compostos não é bom e nem ruim: ele é absolutamente neutro em relação às partes. Do ponto de vista matemático ele é perfeito, coerente e consistente para qualquer taxa de juros e para qualquer prazo. Caso, por absurdo, fosse proibido pela justiça brasileira, colocaríamos na marginalidade todos os planos de aplicação de recursos em cadernetas de poupança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência, títulos de capitalização, fundo de garantia por tempo de serviço – FGTS –, e também, todos os contratos de empréstimos ou financiamentos em prestações iguais ou diferentes. E não é só isso: decretaria a nulidade de todos os livros de matemática financeira existentes e de todos estudos econômicos e financeiros elaborados. Em suma, decretaria a extinção uma ciência conhecida, respeitada e utilizada no mundo inteiro, o que, sem a menor sombra de dúvida, colocaria a justiça brasileira numa situação extremamente desconfortável perante o mundo. Mas, como já mencionamos, isso seria um absurdo!


Fonte
VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. A capitalização dos juros e o conceito de anatocismo. Disponível em: <http://www.sindecon-esp.org.br/arq_sys/neodownload//anatocismo020904.pdf>. 

Intuição nas decisões de investimento


Assim como no futebol e na política, muitas vezes as decisões de investimento são feitas a partir de visões apaixonadas e dogmáticas, onde impera tudo, menos a racionalidade econômica. Os trabalhos dos estudiosos das finanças comportamentais nos dão importantes pistas de como os indivíduos tomam suas decisões, descrevendo comportamentos particularmente danosos no processo de escolha de investimentos. Vejamos alguns exemplos:

  • Autoconfiança excessiva: em um grupo de pessoas, pergunte, por exemplo, como elas se vêem em termos de habilidade como motoristas. Não se surpreenda se algo como 80-90% se acharem melhores do que o motorista mediano! A menos que estejamos diante de pilotos capazes de impressionar o Jean Todt, da Ferrari, esse resultado é estatisticamente pouco provável. Tal descrição demonstra como muitas pessoas se consideram dotadas de habilidades superiores à sua real capacidade. O prezado leitor deve conhecer alguém que se considera um ás dos investimentos, que "sempre" compra os "cavalos ganhadores", certo? Esse tipo de postura é excelente para o ego, porém, em geral é desastrosa com relação aos investimentos.

  • Subestimação de resultados adversos: algumas pesquisas mostram resultados que saltam aos olhos. Eventos que as pessoas classificam como "impossíveis", ocorrem em 10% a 15% das vezes. Outro dado interessante é o de uma pesquisa mostrando que 80% dos novos empreendedores acham que suas chances de sucesso no novo negócio eram de "no mínimo" 70%. Os fatos, no entanto, indicam uma taxa de sucesso muito diferente. Estima-se que apenas 33% das firmas continuam existindo após cinco anos no negócio! Trazendo para o nosso campo, não é incomum encontrar pessoas, incluindo profissionais de mercado, que flagrantemente subestimam os possíveis resultados adversos de suas decisões de investimentos.

  • Forma em que a situação se apresenta: como você se sentiria tomando um remédio que falhou com 20% das pessoas que o ingeriram? E se você estivesse tomando um remédio que curou 80% das pessoas que o usou? Você deveria ser indiferente nas duas situações, uma vez que a situação concreta é exatamente a mesma. No entanto, eu apostaria que a maioria das pessoas ficariam mais desconfortáveis se a pergunta fosse feita no primeiro formato.

É grande a tentação de ficar discutindo e mostrando exemplos de quão longe muitas pessoas estão de decisões puramente racionais. Porém, vamos evitar mais divagações e tentar extrair algumas lições úteis para o dia-a-dia da gestão de carteiras.

Investidores tendem a agir com excesso de segurança


Como já vimos, os investidores tendem a agir com viés otimista e excessivamente seguros de que controlam situações futuras cujo desfecho, na verdade, desconhecem. No processo de escolha dos investimentos, leve em conta todas as possibilidades, não confie apenas na intuição e não superestime a sua capacidade de "ler" o mercado. Por exemplo, diante da forte valorização das ações no ano passado, não foi difícil encontrar investidores que estavam aumentando suas posições em bolsa com argumentos do tipo "com certeza a aposta é ganhadora, o governo está muito bem e não vejo o que pode dar errado." Esse primeiro trimestre foi uma boa amostra de que várias coisas podem surpreender (escândalos políticos, atentados terroristas etc.).

Lembrem-se que esse mundo dos investimentos é composto por profissionais altamente capacitados e treinados para constantemente procurar as melhores alternativas de investimento, incorporando aos preços boa parte das informações e expectativas. Portanto, é algo muito raro encontrar "barganhas" no mercado e mais raro ainda ter "certeza" sobre o que vai acontecer. Encontrar boas oportunidades certamente requer um trabalho sério, disciplinado, consistente e periódico. As raras "barganhas" que aparecem normalmente escondem riscos que devem ser corretamente identificados e estimados, do contrário pode-se cair em armadilhas com resultados completamente diferentes daqueles esperados.

"Aprenda com os seus erros", óbvio não? Porém, uma das características identificadas nesses estudos de finanças comportamentais é que os indivíduos tendem a creditar para si os bons resultados e atribuir os fracassos a fatores exógenos, fora do seu controle. Isso faz muito bem ao ego, mas, no longo prazo, pode levar a resultados desastrosos, ao superestimar sua capacidade e subestimar os riscos de suas decisões. Uma saída para evitar esse tipo de comportamento é apoiar-se em dados objetivos sobre o investimento que se quer fazer, possuir um bom banco de dados e revisitar periodicamente as decisões tomadas, atualizando-as frente aos novos dados que se apresentam. Fazendo um paralelo, mesmo com experiência de vários anos de vôo, um piloto de avião sempre repassa o mesmo "check list" antes de decolar. Por que os que lidam com investimentos acham que podem se dar ao luxo de confiar apenas na intuição?

As boas decisões financeiras são aquelas tomadas racionalmente, de forma objetiva, cujo resultado deve ser independente da forma em que o problema se apresenta. Tente analisar as alternativas de forma fria, identificando exatamente quais os pontos determinantes para o comportamento futuro. Por exemplo, não é difícil encontrar situações em que os investidores (incluindo-se profissionais de mercado) mantiveram posições em determinados ativos quando estavam perdendo e/ou se desfizeram rapidamente delas quando estavam ganhando. Essa decisão deve ser independente do ganho ou prejuízo que você venha tendo, a análise deve se concentrar sobre os resultados esperados no futuro, não devendo haver nenhum tipo de "apego" à posição original.

Resumindo, bons investimentos não caem do céu. Achá-los demanda muito trabalho, disciplina, especialização profissional, identificação dos potenciais de risco e retorno das diversas alternativas, muita frieza e racionalidade na análise. Tudo isso é particularmente importante em mercados sem tendências definidas como o atual.

Fonte
FERRAZ, Charles. Intuição nas decisões de investimento. Valor Econômico, São Paulo, 26 abr. 2004.