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Economista pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Possui cursos de extensão pela Fundação Getúlio Vargas em Fundamentos de Estatística Descritiva e Probabilidade, Gestão de Preços, Consultoria em Investimentos Financeiros, Balanced Scorecard, Finanças Empresariais, Introdução ao Mercado de Ações a Vista, Administração Financeira / Decisões sobre Investimentos e Financiamentos, Direito Bancário, Gestão de Crédito e Risco, Direito do Seguro e Resseguro, Gestão Estratégica em Negócios Bancários, Teoria Econômica do Setor Público, Contabilidade Financeira, Projetos de Investimento Social e Série Estratégica em Finanças. Possui Certificação pela Associação Nacional dos Bancos de Investimentos CPA 10 e CPA 20. É Agente Autônomo de Investimentos credenciado pela Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (CVM), certificado pela Associação Nacional das Corretoras e distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). E-MAIL: daguiarsilva@uol.com.br

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Intuição nas decisões de investimento


Assim como no futebol e na política, muitas vezes as decisões de investimento são feitas a partir de visões apaixonadas e dogmáticas, onde impera tudo, menos a racionalidade econômica. Os trabalhos dos estudiosos das finanças comportamentais nos dão importantes pistas de como os indivíduos tomam suas decisões, descrevendo comportamentos particularmente danosos no processo de escolha de investimentos. Vejamos alguns exemplos:

  • Autoconfiança excessiva: em um grupo de pessoas, pergunte, por exemplo, como elas se vêem em termos de habilidade como motoristas. Não se surpreenda se algo como 80-90% se acharem melhores do que o motorista mediano! A menos que estejamos diante de pilotos capazes de impressionar o Jean Todt, da Ferrari, esse resultado é estatisticamente pouco provável. Tal descrição demonstra como muitas pessoas se consideram dotadas de habilidades superiores à sua real capacidade. O prezado leitor deve conhecer alguém que se considera um ás dos investimentos, que "sempre" compra os "cavalos ganhadores", certo? Esse tipo de postura é excelente para o ego, porém, em geral é desastrosa com relação aos investimentos.

  • Subestimação de resultados adversos: algumas pesquisas mostram resultados que saltam aos olhos. Eventos que as pessoas classificam como "impossíveis", ocorrem em 10% a 15% das vezes. Outro dado interessante é o de uma pesquisa mostrando que 80% dos novos empreendedores acham que suas chances de sucesso no novo negócio eram de "no mínimo" 70%. Os fatos, no entanto, indicam uma taxa de sucesso muito diferente. Estima-se que apenas 33% das firmas continuam existindo após cinco anos no negócio! Trazendo para o nosso campo, não é incomum encontrar pessoas, incluindo profissionais de mercado, que flagrantemente subestimam os possíveis resultados adversos de suas decisões de investimentos.

  • Forma em que a situação se apresenta: como você se sentiria tomando um remédio que falhou com 20% das pessoas que o ingeriram? E se você estivesse tomando um remédio que curou 80% das pessoas que o usou? Você deveria ser indiferente nas duas situações, uma vez que a situação concreta é exatamente a mesma. No entanto, eu apostaria que a maioria das pessoas ficariam mais desconfortáveis se a pergunta fosse feita no primeiro formato.

É grande a tentação de ficar discutindo e mostrando exemplos de quão longe muitas pessoas estão de decisões puramente racionais. Porém, vamos evitar mais divagações e tentar extrair algumas lições úteis para o dia-a-dia da gestão de carteiras.

Investidores tendem a agir com excesso de segurança


Como já vimos, os investidores tendem a agir com viés otimista e excessivamente seguros de que controlam situações futuras cujo desfecho, na verdade, desconhecem. No processo de escolha dos investimentos, leve em conta todas as possibilidades, não confie apenas na intuição e não superestime a sua capacidade de "ler" o mercado. Por exemplo, diante da forte valorização das ações no ano passado, não foi difícil encontrar investidores que estavam aumentando suas posições em bolsa com argumentos do tipo "com certeza a aposta é ganhadora, o governo está muito bem e não vejo o que pode dar errado." Esse primeiro trimestre foi uma boa amostra de que várias coisas podem surpreender (escândalos políticos, atentados terroristas etc.).

Lembrem-se que esse mundo dos investimentos é composto por profissionais altamente capacitados e treinados para constantemente procurar as melhores alternativas de investimento, incorporando aos preços boa parte das informações e expectativas. Portanto, é algo muito raro encontrar "barganhas" no mercado e mais raro ainda ter "certeza" sobre o que vai acontecer. Encontrar boas oportunidades certamente requer um trabalho sério, disciplinado, consistente e periódico. As raras "barganhas" que aparecem normalmente escondem riscos que devem ser corretamente identificados e estimados, do contrário pode-se cair em armadilhas com resultados completamente diferentes daqueles esperados.

"Aprenda com os seus erros", óbvio não? Porém, uma das características identificadas nesses estudos de finanças comportamentais é que os indivíduos tendem a creditar para si os bons resultados e atribuir os fracassos a fatores exógenos, fora do seu controle. Isso faz muito bem ao ego, mas, no longo prazo, pode levar a resultados desastrosos, ao superestimar sua capacidade e subestimar os riscos de suas decisões. Uma saída para evitar esse tipo de comportamento é apoiar-se em dados objetivos sobre o investimento que se quer fazer, possuir um bom banco de dados e revisitar periodicamente as decisões tomadas, atualizando-as frente aos novos dados que se apresentam. Fazendo um paralelo, mesmo com experiência de vários anos de vôo, um piloto de avião sempre repassa o mesmo "check list" antes de decolar. Por que os que lidam com investimentos acham que podem se dar ao luxo de confiar apenas na intuição?

As boas decisões financeiras são aquelas tomadas racionalmente, de forma objetiva, cujo resultado deve ser independente da forma em que o problema se apresenta. Tente analisar as alternativas de forma fria, identificando exatamente quais os pontos determinantes para o comportamento futuro. Por exemplo, não é difícil encontrar situações em que os investidores (incluindo-se profissionais de mercado) mantiveram posições em determinados ativos quando estavam perdendo e/ou se desfizeram rapidamente delas quando estavam ganhando. Essa decisão deve ser independente do ganho ou prejuízo que você venha tendo, a análise deve se concentrar sobre os resultados esperados no futuro, não devendo haver nenhum tipo de "apego" à posição original.

Resumindo, bons investimentos não caem do céu. Achá-los demanda muito trabalho, disciplina, especialização profissional, identificação dos potenciais de risco e retorno das diversas alternativas, muita frieza e racionalidade na análise. Tudo isso é particularmente importante em mercados sem tendências definidas como o atual.

Fonte
FERRAZ, Charles. Intuição nas decisões de investimento. Valor Econômico, São Paulo, 26 abr. 2004. 

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